Quotidiano

Certo dia estava entretido sentadinho a folhear um livro que tinham escrito sobre um arquitecto muito interessante. Um daqueles que trabalha a luz! Precisava de fazer um trabalho de pesquisa e então fui procurar outro livro. Este tinha desaparecido, alguém o deveria ter escondido noutra estante, irritado, soltei um “PORRA” ainda altinho, e recebi logo uma reprimenda do senhor bibliotecário bem humorado. Desci a rampa curvante e dirigi-me ao bar. Estava uma fila de tirar o apetite a qualquer um, e como não me apetecia sociabilizar enlatado na fila das não senhas… Enfim, dei curva para trás e fui às máquinas. Moedas a baixo, o bolo encravou-se. Lá fui reembolsado depois, embora pontear a máquina fosse bem mais divertido. Ao passar pela papelaria lembrei-me de comprar umas coisas que são bem baratinhas lá. Encostado ao vidro a dar passinhos curtos esperando pela minha vez, os movimentos rápidos da senhora cativaram-me a minha atenção, até a graciosidade com que tratava do troco me deliciava. Desisti, comprava mais tarde quando não houvesse fila. Foi então aqui que me lembrei daquele tal documento que tinha de ir buscar à secretaria. Chegado lá deparei-me com a senhora que me disse que não me podia atender por que o horário de atendimento esgotara-se há coisa de 5 minutos. Nem balbuciei, virei costas e engoli em seco. Pena que esta esteja aberta quando estamos em aulas. Agora o que me faltava era uma visita à reprografia para ser então recebido por um sorriso estrondoso, caramba, algo mesmo rejuvenescedor. Não, não vou gastar mais papel em fotocópias. Olha, já são horas de voltar para a sala, vou de elevador, não, está no quinto piso, vou então pelas escadas, nunca as subi portanto até vai ser giro. Duas horas vão ao ar. Estou com fome, ao passar pelas salas lembro-me de ter pensado, “olha, estes têm professor, é uma sorte hoje em dia…” mas realmente, como não procedo ao pagamento de propinas não podia exigir ter professor. É justo. Dois euros é o preço a que está a palha agora em Letras. E temos direito também a andar no fantástico carrossel da fila da confraternização para pegarmos em tabuleiros. Ah que chatice, já passa um quarto de hora desde que começaram a servir, agora só apanho palha com bifes estorricados, sumo deslavado, uma sobremesa divinal e um atendimento especial, não há dúvida, foram escolhidas a dedo, com os cumprimentos do ITAU. Mais quatro horinhas, que ânsia. Primeira parte, intervalo. Vou ver o meu mail à sala dos pcs. Oh não, está fechada e só abre para a aula de CAD, gaita! Vou então ver como está o meu cacifo, é verdade, no dia em que aceitavam candidaturas à posse de cacifos eu encontrava-me presente, valeu! Agora tenho um porreiro só para mim. Mais duas horinhas. Passo só pelo W.C. para cumprimentar o pessoal da torre em frente e já estou cá fora outra vez. Está a chover e não tenho onde me abrigar, vou para dentro outra vez, numa última investida à biblioteca subo a rampa curvante relembrando os melhores trabalhos do ano passado, alguns até estavam lá expostos e tudo. Vagueio curioso por uma e outra revista com figurinhas de mega balanços, lajes e vãos com expressões, leituras e sentimentos se calhar, que diabo, será que o livro já voltou? Será que o sacanita do … as luzes falharam, é um “ponham-se na rua” delicado e subtil. Enfim, dou mais umas voltas corredor acima corredor abaixo até que finalmente a chuva passa. Vou-me embora, vou para casa, quando alcancei a porta esta não abriu, já eram e quinze, diabos! Vou ter de esperar pelo segurança mais um bocadinho…como é que vai ser amanhã? Não pensem que vai ser assim horrível, pois não vai, falo de contente até; “e agora de repente eu pergunto”: o que é que vai ser amanha? Amanha vai ser quarta-feira…

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