Trouxa Real

É possível que muitos de vocês já tenham ouvido falar deste projecto ímpar que vai ser construído em Lisboa, mas tenho a certeza de que há uma percentagem que ainda não tomou contacto com o mesmo. Não sabem o que estão a perder.

Trata-se da Igreja de S. Francisco Xavier, a ser erigida no Restelo, e o seu autor é o Arq. Troufa Real, claramente um artista de nível internacional, misteriosa e injustamente ignorado pelas retrógradas hostes arquitectónicas nacionais. É, aliás, incompreensível que, como “figura de referência na arquitectura portuguesa” que é, não se envidem todos os esforços para que os estudantes de arquitectura conheçam devidamente a sua obra e aprendam com ela.


Mas o que caracteriza então esta proposta tão excepcional?

Em primeiro lugar, atentem na cuidadosamente apurada volumetria, com um fantabulástico minarete de 100 m de altura que tão bem se integrará no skyline alfacinha.

A proporção e relações entre as várias peças são, no mínimo, magistrais. Vê-se que há um indiscutível “ar de família” entre as diversas formas, na sua diversidade; é difícil encontrar projecto mais unitário do que este.

Não deixem igualmente de reparar na escolha acertada dos materiais, que conferem uma expressão inigualável ao edifício, e no sensível trabalho cromático, cheio de subtileza e sensatez.

Do mesmo modo, o arquitecto procurou inspiração em elementos intimamente ligados à arquitectura, como o sejam barcos, ondas, jóias, etc.., ou a obra pictórica de Bosch. Mas não deixou de lado um certo abstraccionismo, como se pode ver pelas formas abstrusas incrustadas ou serpenteando na obra. A referenciação histórica não foi igualmente descurada. Temos o já referido minarete, ligado obviamente à arquitectura árabe, que tanta influência deixou na Península; uma guarita, de tamanho 10 vezes superior ao normal (certamente para enfatizar o seu papel), vestígio claro da arquitectura militar portuguesa dos séculos XVI e XVII; e ainda uma parte em linguagem classicizante-orientalista.

Permitam-me ainda acrescentar que me parece clara a influência que outras importantes referências terão tido no projectista, nomeadamente as casas dos Estrumpfes, os postais e mochilas Hello Kitty, ou as construções atlantes da série de BD Blake & Mortimer; mas sobretudo, indiscutivelmente, a caixa-forte do Tio Patinhas. Acho que existe aqui ainda qualquer coisa das paisagens curvilíneas de Milo Manara (se bem, que, neste ponto, pessoalmente, acho que o arquitecto ainda tem que “pedalar” bastante).


E que dizer quanto aos pressupostos teóricos que sustentam este trabalho?

Leiam e aprendam, com as palavras do Prof. Dr. Troufa Real:


Gosto muito de tudo o que é alto.”

Uma caravela num temporal, toda dobrada” (quanto à nave)

Uma referência à casa portuguesa do arquitecto Raúl Lino” (quanto à casa do pároco)

Uma réplica das antigas fortalezas portuguesas da época dos Descobrimentos” (quanto ao centro social)

As Tentações de Santo Antão (...) e José Saramago” (quanto às influências gerais)

Um cadáver esquisito” (quanto ao seu próprio projecto para a igreja)

É por estas razões que o queijo Limiano é tão apreciado” (frase que, segundo ele, resume a polémica gerada em torno da obra)


A minha arquitectura está ligada ao mundo do fantástico, é de raiz simbólica. Não sou um arquitecto moderno, sou antimoderno”

Gosto de ideias que se aproximam do limiar entre o kitsch e o piroso”

É um bando de velhos, autênticos talibãs da arquitectura que não se reciclaram e não percebem o que se está a passar no mundo (...) Odeiam outras culturas. Só sabem fazer peixe podre, peixe passado” (quanto a alguns arquitectos contemporâneos de índole modernista)

Deixem-me ser livre. Tenho direito à minha arquitectura de autor” (recado para todos os críticos da sua arquitectura)



Metam os Sizas, Soutos de Moura, Aires Mateus, Távoras e Athouguias na gaveta. Troufa Real chegou para ficar. Até Chuck Norris tem medo dele.



PS.: Peço desculpa pela extensão do post, mas convenhamos que uma obra deste calibre merece um pouco de espaço mediático, não? ;)


Links

http://troufareal.blogspot.com/

http://www.publico.clix.pt/Local/troufa-real-responde-as-criticas-com-nova-proposta-de-torre_1410653

http://www.ionline.pt/conteudo/34084-troufa-real-justifica-igreja-aberrante-com-o-queijo-limiano

5 comentários:

Embasbacado disse...

k perola!!!!!!!!

MC Barros disse...

...e eis que numa bela tarde de sexta-feira na faup, em que era suposto termos trabalhado para Historia da Arquitectura Contemporanea...ficamos a divagarar sobre a fantastica arquitectura com que a cidade de Lisboa nos brinda...

Um minarete numa Igreja em terra de Mouros parece-me bem...

...e porque não usar a fantastica frase:

"A Beira desta porcaria...o TAVEIRA pode ser considerado um Arquitecto racionalista..."

MC

kadé@GBG disse...

arquitectura brilhante...passa a partir de hj a ser uma das minhas primeiras referências!

umfilipequalquer disse...

das mais sagradas escrituras, fica aqui uma que, penso eu, encaixa que nem ginjas:

"a arquitectura é um coisa; e faz me pensar."
denise, 16-22.

Anónimo disse...

já agora.. no altar deve estar a pequena sereia, não? MEDO....