Os Bons Alunos (parte A)

O Monty e o Patton estavam a descer as escadas da escola dos Chuis. Vinham do curso de Arquitectura e preparavam-se para almoçar antes de retomar o estágio em frente do edifício do Partido Conformista cujos os vidros acabam de ser partidos à paulada por umas bestas de uns energúmenos. Balançavam alegremente os capotes azuis ao mesmo tempo que assobiavam uma marcha policial que é marcada, no seu compasso temerário, por uma bela pancada com o cassetete branco na coxa do vizinho e que, por tal razão, deve ser de preferência executada por um par de chuis. Quando chegaram ao fundo  das escadas viraram e tombaram pelo corredor abobadado do refeitório. Sob as pedras antigas, a marcha ressoava curiosamente, porque o ar entreva em vibração no bemol 4 cujo tema completo não comporta menos de trezentos e trinta e seis vibrações. À esquerda, no parque sob o comprido, cheio de arvores queimadas, outros futuros chuis faziam exercício de aquecimento, jogando ao salto-ao-polícia, estudando a contradança ao som do violino, enquanto martelavam com os bastões de treino verdes em cabaças que deviam rachar dum só golpe. O Monty e o Patton não prestavam a mínima atenção a este espectáculo no qual participavam como actores todos os dias, excepto à quinta-feira que é quando os chuis descansam.

O Monty empurrou a grande porta do refeitório e passou primeiro. O Patton esperou um minuto até ter terminado a mancha dos chuis visto que assobiava mais devagar do que o Monty. Os alunos da escola chagavam por outras portas em grupos de dois ou três, muito animados, porque tinha havido exames na véspera e na parte da manhã.

O Monty e o Patton dirigiram-se à mesa sete onde encontraram o Ike e o Mc. Douglas, dois dos chuis mais atrasados da escola, facto que contrabalançavam com um descaramento pouco usual. Sentaram-se todos num estardalhaço de cadeiras partidas.

-       –Que tal correu? – perguntou o Monty ao Ike.

-       –Foi uma porra! – respondeu Ike. – puseram-se na mãos uma velhota que tinha pelo menos uns setenta anos e dura como um cavalo, a cadela!

-       –Eu parti os dentes da minha de uma vez só – disse o Mc. Douglas. – o examinador deu-me os parabéns.

-       –Eu cá não tive sorte nenhuma – insistia o Ike. – Ela pôs-me tão fora de mim que falhei a promoção para a capa com placas de chumbo.

-       –Eu sei porque é – disse o Patton. – Já não os arranjam em numero suficiente nos bairros pobres e então dão-nos uns que vêm de sítios onde se come melhor. Aguentam mais a pancada. Se são mulheres, estás a ver, ainda vá, mas hoje de manhã tive dificuldade em enfiar o cassetete no olho do meu gajo...

-       –Ah, pois – disse o Ike – eu já estava mesmo a contar com isso. Fiz um bocado de batota com o cassetete.
Mostrou-o. Afiara-lhe a ponta com muita habilidade.

-       –Entra como manteiga – disse. – Esforcei-me à bruta e ganhei mais dois pontos. Assim recuperei o que perdi ontem...

-       –Os ganapos também estão difíceis este ano – disse o Monty. – Àquele que eu tinha ontem de manhã, só lhe consegui partir um pulso de cada vez. Os tornozelos teve de ser à sapatada. Uma porcaria.

-      –Vai dar ao mesmo – disse o Ike. – Com os da Assistência já não podemos contar. Estes são miúdos apanhados aqui e ali, nunca se sabe. Tanto te pode calhar um bom como um mau. É uma questão de sorte. Os que estão bem alimentados não amocham facilmente. Têm pele rija.

-       –As placas de chumbo da minha capa é que se descoseram – disse o Mc. Douglas – por isso dezasseis já só tinham sete. Tive de me pôr a bater duas vezes mais rápido, que estafado que eu fiquei, palavra de honra!... Mas o sargento gozava à brava a ver a cena. Disse-me só para da próxima vez os cozer com mais força. Não fui penalizado.

Quando chegou a sopa, calaram-se. O Monty pegou na concha e mergulhou-a na marmita. Era sopa de galão com gordura à superfície. Serviram-se em doses avantajadas.

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