Os Bons Alunos (parte B)



-Vais ter com ela hoje? Perguntou o Patton.
-Não- respondeu o Monty. – Ela não podia. Que porra de dia!...
Estavam de guarda à porta do Minusterio dos Ganhos e perdas.
-Isto aqui não passa ninguém – disse o Monty. – É...
-Desculpe, a rua Dasescolas?
-Força – disse o Monty.
O Patton deu uma grande bastonada na cabeça da mulher e deitaram-na encostada à parede.
-A cabra da velha! – disse o Monty. – Não podia vir falar-me pela esquerda como toda a gente? Bem, sempre foi uma distracção – concluiu.
O Patton esfregava o cassetete com um lenço aos quadrados.
-O que é que faz a tua miúda? – perguntou o Patton.
-Sei lá – disse o Monty. – Mas é simpática, estás a ver...
-E ela... bem? – perguntou o Patton.
O Monty corou.
-Metes nojo. Não entendes nada de sentimentos.
-E então, não vais estar com ela hoje? – disse o Patton.
-Não – disse o Monty. – O que é que eu hei-de fazer hoje a noite?
-Podemos ir aos Armazéns Gerais – disse o Patton. – Aparece sempre gente para gamar comida.
-Não estamos de serviço – disse o Monty.
-Vamos lá e pronto – disse o Patton. – É giro e talvez a malta consiga prender alguém. Mas se preferes podemos ir ao...
-patton, eu já sabia que eras um porco, Patton – disse o Monty – mas, realmente não percebes nada, eu não podia fazer uma coisa dessas agora.
-Andas é apanhado – disse o Patton. – Mas pronto, não quero ser o mau da fita. Vamos aos Armazéns Gerais. Mas leva a tua pistola, ainda há esperança de conseguirmos dar uns tirinhos.
-Ai, não!- disse o Monty muito excitado. – Vamos pelo menos dar cabo de umas duas dúzias...
-Oh pá, andas-me com um ar apaixonado como tudo – disse o Patton.



O Patton passou primeiro. O Monty foi logo a seguir. Caminharam ao longo do muro de tijolo esboroado e conseguiram entrar por uma abertura, conservada cuidadosamente pelo guarda para evitar que os gatunos danificassem a parede se tivessem que a escalar. Entraram. O buraco dava para um atalho estreito guarnecido com arame farpado de um lado e do outro. Isto dava aos ladroes uma única possibilidade de se meterem por ali dentro. Tinham sido escavadois aqui e ali buracos no chão para permitir aos chuis esconderem-se e fazerem pontaria sem precipitações. O Monty e o Patton escolhram um com dois lugares. Instalaram-se confortavelmente e não passaram dois minutos quando ouviram o motor de uma autocarro que trazia os ladroes portos para o trabalho. Sentiram o zumbido da campainha e os primeiros gatunos apareceram na abertura. O Monty e o Patton cobriram os olhos para não os ver. Era mais divertido abate-los no regresso. Estava a passar. Iam descalços, por causa do barulho e porque os sapatos são caros. Lá passaram.
-Confessa que gostavas mais de estar com ela – disse o Patton.
-É verdade – disse o Monty. – Não sei o que é que tenho. Devo estar apaixonado.
-Isso eu já te tinha dito – respondeu o Patton. – Andas a dar-lhe prendas?
Ando – disse o Monty. – ofereci-lhe uma pulseira de casquinha azul. Ela ficou toda contente.
-Contenta-se com pouco – disse o Patton. – Já ninguém usa disso.
-Quem disse? – perguntou o Monty.
-Não é da tua conta – disse o Patton. – Quando estás com ela pões-te a apalpá-la?
-Cala a boca – disse o Monty. – não se deve brincar com essas coisas.
-Sempre tiveste um fraco pelas louras – disse o Patton. – Mas isso passa como com os outros. É uma magricela.
-Fala de outra coisa – disse o Monty. – Também não gosto que digas isso.
-Já me estás a chatear – disse o Patton. – Se não pensas noutra coisa vais perder pontos na escola.
-Não vou nada – disse o Monty. – Atenção, ai vêm eles!...
Deixaram passar o primeiro, um homem calvo que trazia um saco de ratos cristalizados. E a seguir, o Patton disparou. Um alto e magro caiu fazendo “couic!...” e os embrulhos que levava rolarem por terra. O Patton deu-lhe uma boa dose e o Monty disparou também. Abateu dois mas eles levantaram-se e conseguiram chegar à saída. O Monty praguejava como um diabo e a pistola do Patton encravou-se. Outros três rasparam-se mesmo nas suas barbas. Quem vinha em ultimo era uma mulher e o Monty, furioso, despejou o carregador sobre ela, enquanto Patton saía do buraco para completar o trabalho; mas ela já estava bem morta. Uma bela loura. O sangue nos pés nus pintava-lhe as unhas de vermelho e, no punho esquerdo, trazia uma pulseira nova em casquinha. Era magra. Devia ter morrido em jejum, o que é melhor para a saúde.

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